"O justo é como árvore plantada à beira de águas correntes, perto da Fonte. Porque está plantado assim, ele dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que faz prospera. Ele é teimosamente abençoado por Deus. A olhos vistos".

Divulgo, aqui no blog, algumas reflexões. Não são textos acabados e sempre estou aberto ao diálogo!

sábado, 7 de abril de 2012

“Desceu à mansão dos mortos”

“Descendit ad ínferos”

“E no sétimo dia descansou [...]” (Gn 2,2b).

Assim encerra-se o primeiro relato da Criação, após o autor do texto elencar todas as obras da Criação que Deus havia realizado. No sétimo dia toda a obra havia sido concluída. No sétimo dia, Deus descansou.

Hoje a Igreja celebra o repouso do Senhor no sepulcro. “Tudo está consumado”, ouvimos na proclamação da Paixão de Nosso Senhor, ontem, na celebração da Sexta-Feira Santa. Dizendo isto Jesus inclina-se e entrega Seu Espírito. É o repouso dAquele que inaugurou a Nova Criação e que, ao repousar no seu sono da morte, permitiu que nascesse, de seu lado aberto, a Sua esposa, a Igreja. Na primeira Criação Deus, do lado de Adão (o hebraico utiliza-se da palavra “tselá” – lado) faz surgir Eva, sua esposa, sua companheira. Na segunda Criação, Deus faz brotar do lado aberto de Cristo sangue e água, a eucaristia e o batismo, é o nascimento da Igreja.

“Descendit ad ínferos”

O que os autores dos Evangelhos viram é o que lemos – Jesus foi descido da cruz e, após ter sido enrolado em um pano de linho, foi sepultado em uma sepultura que ainda não tinha sido utilizada.

“Pois a mansão triste dos mortos não vos louva, nem a morte poderá agradecer-vos; para quem desce à sepultura é terminada a esperança em vosso amor sempre fiel.” (Is 38, 18 – das Laudes do Sábado Santo).

O que não vimos, nem tampouco seus discípulos foi o que aconteceu logo após a sua morte. Segundo a nossa preciosa fé, de acordo com a santa Tradição, Jesus desceu aos infernos (do latim “infernus” – região inferior) para resgatar aquele que estavam acorrentados ao poder da morte até aquele momento – os Patriarcas, os Profetas, os Santos. Jesus adentra os portões da morte sendo exaltado por todos os que O aguardavam, por aqueles que antecipadamente já O haviam anunciado. O Senhor estende Sua mão e segura a direita de Adão saindo dos infernos e sendo seguido por todos os santos. Entrega-os à guarda de São Miguel que os leva ao Paraíso (Esta é a cena representada pelo ícone ao lado – Ícone da Ressurreição – na minha modesta opinião um dos mais lindos e expressivos!). Ao tomar Adão pela mão Jesus demonstra que a Salvação não é mérito obtido, mas graça recebida gratuitamente!
Um relato interessantíssimo encontramos no evangelho de Nicodemos (já mencionado em aproximadamente 150 d.C. por Justino) narra a chegada do anjo Miguel ao Paraíso e lá encontrando dois anciãos – Enoque e Elias (que segundo as Escrituras não experimentaram a morte) e também um outro homem, que é logo identificado com o “bom” ladrão que implorou a Jesus que o aceitasse no Seu Reino. Conta assim o relato: “Fui ladrão e crucificado com Jesus. Acreditei que Ele é o Criador e supliquei: ‘Lembre-se de mim, Senhor, quando chegar ao seu reino’. Então Ele me respondeu: ‘Em verdade digo, hoje você estará comigo no Paraíso’. E me deu este sinal-da-cruz, dizendo: ‘Leva isto para o Paraíso, e caso o anjo que guarda suas portas não o deixar entrar, mostre-lhe o sinal-da-cruz e diga: ‘Foi Cristo, que está sendo agora crucificado, que me enviou’. Quando assim fiz e assim falei ao anjo, no mesmo instante ele ali me introduziu e me colocou à direita no Paraíso”. Foi pela morte de cruz que este homem obteve a sua salvação. Foi a graça redentora da cruz que um malfeitor em toda a sua vida obteve a misericórdia e antecedeu aos santos no céu.

“Descendit ad ínferos”

Pedro, em sua primeira epístola já anunciava – “Eis por que o Evangelho foi pregado também aos mortos” (I Pd 4,6). É a missão de Jesus Cristo que chega até o limiar da existência humana, até a morada dos mortos. A Sua morte além de ser redentora é anunciadora de uma vida nova.

Segundo o Catecismo este evento de Cristo na mansão dos mortos “é a fase última da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente vasta em sua significação real de extensão da obra redentora a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares, pois todos os que são salvos se tornaram participantes da Redenção” (CIC 634).

Neste Sábado Santo somente o corpo de Jesus Cristo repousa, sua alma unida à sua pessoa divina, porém, consuma a obra de redenção.

E nós, os cristãos, o que fazemos?

Aguardamos em silêncio o que virá. Nosso Rei dorme, mas nós vigiamos, juntamente com as santas mulheres  - “Ora, Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas em frente ao sepulcro” (Mt 27, 61). Ansiosamente aguardamos...

Robert Rautmann, CCJ

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